Formação integra a Rede de Formação Socioambiental do Projeto Redes, uma condicionante do licenciamento ambiental federal conduzida pelo Ibama.

Registro do primeiro Tempo Escola do curso no Ervário Caiçara (Sertão do Ubatumirim, Ubatuba-SP)
A primeira fase do curso "Saúde e Cultura Tradicional", da Rede de Formação Socioambiental do Projeto Redes, começou entre os dias 18 e 21 de fevereiro, em Ubatuba (SP), promovendo um rico intercâmbio de saberes e experiências entre profissionais de saúde e lideranças de comunidades tradicionais do litoral sul do Rio de Janeiro e litoral norte de São Paulo.
O curso teve como palco o Ervário Caiçara e a Aldeia Boa Vista. Durante três dias de imersão, os participantes puderam vivenciar atividades variadas, como a exibição de um filme sobre as erveiras e territorialidades, uma roda de conversa sobre as roças caiçaras e uma visita guiada ao Ervário, além da demonstração de preparos medicinais e uma roda de conversa dedicada à medicina indígena. Entre os principais objetivos, esteve a discussão sobre a importância das práticas tradicionais para a saúde e seu papel para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
“As práticas tradicionais são produzidas, feitas e vividas ancestralmente nesse território. E a gente entende a saúde muito mais do que uma questão física. A saúde é um conjunto de elementos como que envolve modos de vida, defesa do território, como se planta, como se come, como se vive, como se reza. O curso olhou para diferentes práticas, para as erveiras, para as roças, para as rezas e para a saúde mental como uma forma de proteção, de promoção à saúde, também entendendo que, sem território, não há saúde”, explica Aline Tavares, Coordenadora do Projeto Redes.
Realizado em parceria com a Frente de Agroecologia da Incubadora de Tecnologias Sociais do OTSS, a Frente de Cultura do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), o Coletivo Cozinha das Tradições (FCT) e o Núcleo de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas da Fiocruz, o curso integra uma série de oito formações oferecidas pela Rede de Formação Socioambiental do Projeto Redes.
O Projeto Redes (novo nome do PEA Costa Verde) é uma condicionante imposta pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, da atividade de exploração de petróleo e gás natural da Petrobras na Bacia de Santos, sendo realizado no litoral norte de São Paulo e no litoral sul do Rio de Janeiro. A fase 2 é realizada em colaboração da Fiotec/Fiocruz por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina, do Fórum de Comunidades Tradicionais, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Saúde e cultura tradicional
Ao longo do curso, serão abordadas políticas públicas como a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PNSIPCF) e a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (Pneps-SUS), além de políticas de patrimônio cultural que visam a preservação das identidades e territórios dessas populações.
Com a participação de mais de 30 lideranças caiçaras, indígenas e quilombolas, o curso também tem como objetivo fortalecer a relação entre saúde e as culturas tradicionais das populações indígenas, caiçaras e quilombolas abrangidas pelo Projeto Redes. A iniciativa busca valorizar essas práticas no âmbito das políticas públicas de saúde e patrimônio cultural, reconhecendo-as como estratégias de cuidado essenciais para o fortalecimento do SUS e a autonomia das comunidades tradicionais.
"Para nós, é de grande importância o que vem acontecendo dentro das aldeias, que é sobre a saúde mental, que é muito importante falar sobre isso junto com os parceiros, para estarmos juntos nessa luta de levar os jovens na caminhada segura", celebra Tupã Mirim, jovem indígena da Aldeia Rio Bonito, em Ubatuba.
As próximas fases do curso acontecerão em comunidades tradicionais de São Sebastião (SP) e Ilhabela (SP), dando continuidade à troca de saberes e experiências. O objetivo final é fomentar a participação social e a formulação de políticas públicas que atendam às necessidades específicas das comunidades tradicionais.
“Com conhecimento em saúde mental e junto com a cultura Guarani, hoje nós temos pensado algumas ações, ouvindo muito as lideranças de todas as comunidades indígenas Guarani e nas rodas de conversa e ações que fazemos com os jovens na escola”, completa Marília Caponi, psicóloga do OTSS.
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Por Débora Gérberah
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