Com o objetivo de ampliar atuação articulada e fortalecer as comunidades tradicionais em seus territórios, diversos movimentos e instituições iniciaram, em junho de 2022, uma série de caravanas por comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas de sete municípios do litoral sul do Rio de Janeiro e do litoral norte de São Paulo. A primeira edição das Caravanas do Bem Viver ocorreu entre os dias 20 e 24 de junho, em Angra dos Reis (RJ), e a próxima está marcada para ocorrer entre os dias 06 e 09 de dezembro em São Sebastião (SP) e Caraguatatuba (SP), com a realização de lançamentos, encontros, partilhas e oficinas em diferentes espaços e comunidades tradicionais.
Idealizadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), as Caravanas do Bem Viver são realizadas em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também apoiam as caravanas instituições como a Comissão Guarani Yvyrupá (CGY), Fiotec, Petrobras, Ibama, Rede Nhandereko e o Programa Institucional de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Fiocruz, o PITSS.
“A realização das Caravanas do Bem Viver é uma estratégia fundamental para a nossa aproximação ainda maior ao território. Além disso, ela responde a uma demanda estratégica da Fiocruz, definida em seu Plano Plurianual, que é de aproximar a instituição dos movimentos sociais e aprofundar, com eles, as discussões sobre desenvolvimento e sustentabilidade”, explica Edmundo Gallo, Pesquisador Titular da Fiocruz e Coordenador Geral do OTSS.
Ao todo, as Caravanas do Bem Viver passarão por sete municípios: Angra dos Reis, São Sebastião e Caraguatatuba, Mangaratiba, Ilhabela e Paraty e Ubatuba. O percurso culminará com a realização, em 2023, do 1º Encontro Internacional de Territórios e Saberes, evento que reunirá pesquisadores e lideranças comunitárias de diversos países para a articulação de estratégias conjuntas para a promoção de Territórios Sustentáveis e Saudáveis (TSS) por meio do diálogo entre saberes científicos e tradicionais.
Outro destaque será a passagem da Caravana do Bem Viver pela sede da Fiocruz, na cidade do Rio de Janeiro, em data ainda a definir. Na ocasião, trabalhadoras e trabalhadores da instituição poderão interagir com pesquisadores acadêmicos e comunitários do OTSS para avançar na construção de parcerias para a promoção da saúde e do desenvolvimento sustentável no contexto de povos e comunidades tradicionais.
Sobre as Caravanas
Inspiradas nas lutas do povo em suas romarias e caminhadas, as caravanas ocorrem Brasil afora nos mais variados formatos e objetivos. Em geral, envolvem metodologias de mobilização baseadas em ações territorializadas e organizadas em diferentes rotas, o que permite a realização de atividades simultâneas que se complementam e convergem entre si.
No caso da Fiocruz e do Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), as Caravanas do Bem Viver se colocam também como uma resposta à ampliação da equipe e das ações do OTSS desde 2020, quando a organização se tornou um programa institucional da Fiocruz e ampliou sua atuação para um total de sete municípios: Mangaratiba (RJ), Angra dos Reis (RJ), Paraty (RJ), Ubatuba (SP), Caraguatatuba (SP), São Sebastião (SP) e Ilhabela (SP).
“A Caravana do Bem Viver é um movimento de atividades que se enraízam nas comunidades tradicionais. É um pé do OTSS, da Fiocruz, do FCT, da UFF e da Unesp nos lugares mais simbólicos em luta política, organização sociocultural e socioambiental comunitária, para o desenvolvimento sustentável e o bem viver da região. Este evento vai ser um momento de fortalecimento do Fórum de Comunidades Tradicionais e vamos consolidar planos coletivos para o avanço na garantia de direitos das comunidades tradicionais”, explica Marcela Cananéa, coordenadora de Justiça Socioambiental do OTSS, secretária-executiva do FCT e liderança da Coordenação Nacional de Comunidades Tradicionais Caiçaras (CNCTC).
"Nossa participação se dá em função da afirmação de nossa ação territorializada com o intuito de fortalecer ações educativas, de produção de conhecimento e de extensão e de contribuir com uma proposta de desenvolvimento territorial baseada no diálogo de saberes entre as comunidades tradicionais e o conhecimento acadêmico. Nesse sentido, a universidade também se faz presente para além dos muros dos seus campi", completa Davis Gruber Sansolo, professor da Unesp.
A próxima edição das Caravanas do Bem Viver ocorre nos municípios de São Sebastião e Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, entre os dias 06 e 09 de dezembro. Entre as atividades previstas, estão, entre outras, uma partilha envolvendo a pesca e a maricultura, uma roda de conversa sobre turismo de base comunitária, uma ação formativa na área de saneamento ecológico, o lançamento de uma estratégia de protocolo de consulta para a pesca artesanal e a entrega oficial para o Ministério Público do Mapa de Conflitos Socioambientais do FCT, o qual já registrou mais de 50 impactos decorrentes de grandes empreendimentos em comunidades tradicionais de São Sebastião (SP) à Baía da Ilha Grande (RJ).
A programação completa, ainda em construção, será divulgada nas redes e no site do OTSS (www.otss.org.br).
Abertura das Caravanas do Bem Viver em Angra dos Reis
A primeira edição da Caravana do Bem Viver ocorreu, em Angra dos Reis (RJ), entre os dias 20 e 24 de junho. Em diversos momentos, as atividades dialogaram com a Romaria da Terra, realizada no Quilombo Santa Rita do Bracuí, e contribuíram na resposta a diferentes demandas que se colocam para a defesa e garantia dos territórios tradicionais.
Entre as atividades realizadas, estiveram o lançamento da Rede de Formação Socioambiental do Projeto Redes; o 3º Encontro de Justiça Socioambiental do FCT; a Reunião Municipal do Projeto Povos; a Oficina de Trabalho sobre Gestão de Riscos de Desastres em Comunidades Tradicionais; a Reunião da Coordenação Político Pedagógica do Projeto Redes; o Encontro de Cultura Guarani e a Partilha de Turismo de Base Comunitária em Ilha Grande. Parte das atividades foi promovida pelos Projetos Redes e Povos, que são medidas exigidas pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.
"É importante lembrar que a Romaria da Terra é uma caminhada construída há muito tempo pela Comissão Pastoral da Terra e que este foi o primeiro ano em que ela aconteceu em territórios de povos e comunidades tradicionais. A Caravana do Bem Viver vem para fortalecer essa caminhada e desejamos que todas e todos sejam bem vindos para que possamos cada vez mais fortalecer a nossa luta, a nossa cultura e a nossa história", diz Fabiana Ramos, Pesquisadora do OTSS, Articuladora do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) em Angra dos Reis e moradora do Quilombo do Bracuí.
A importância da abertura das caravanas em Angra dos Reis também foi destacada por José Renato, professor da UFF associado ao Instituto de Educação de Angra dos Reis (IEAR/UFF). "As Caravanas favorecem a convergência interinstitucional para que todas essas iniciativas e articulações que já realizamos possam se fortalecer e se integrar em diálogo com nossos parceiros nos municípios. No caso da Caravana de Angra, por exemplo, vale chamar a atenção para a discussão sobre a gestão de riscos e desastres, particularmente importante diante da tragédia ocorrida no município e das discussões sobre o Plano Diretor", destaca.
Sobre o OTSS (Fiocruz + FCT)
Criado em 2009 a partir de uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) é um espaço tecnopolítico de geração de conhecimento crítico, a partir do diálogo entre saber tradicional e científico, para o desenvolvimento de estratégias que promovam sustentabilidade, saúde e direitos para o bem viver das comunidades tradicionais em seus territórios.
Sob a coordenação da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS) e com o apoio da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), atua em territórios indígenas, quilombolas e caiçaras de Mangaratiba, Angra dos Reis, Paraty, Ubatuba, São Sebastião, Caraguatatuba e Ilhabela nas áreas de saneamento ecológico, agroecologia, pesca artesanal, turismo de base comunitária (TBC), promoção da saúde, educação diferenciada, justiça socioambiental, cartografia social, incubação de tecnologias sociais e monitoramento territorializado da Agenda 2030.
"É sempre importante o Observatório estar dentro do território das comunidades tradicionais para que possamos fazer boa articulação. E também para mostrar o que já construímos em todos esses anos, o FCT articulado com a Fiocruz, para contribuir com a permanência das comunidades em seus territórios", completa Julio Karay, integrante das coordenações do OTSS, do FCT e Comissão Guarani Yvyrupá (CGY).
Sobre a UFF
Criada em 1960, a Universidade Federal Fluminense atua em 32 municípios do Estado do Rio de Janeiro (RJ). Sua missão é promover, de forma integrada, a produção e difusão do conhecimento científico, tecnológico, artístico e cultural e a formação de um cidadão imbuído de valores éticos que, com competência técnica, contribua para o desenvolvimento autossustentado do Brasil.
Sobre a UNESP
Criada em 1976, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) atua em 24 municípios do Estado de São Paulo (SP). Sua missão é promover a formação profissional compromissada com a qualidade de vida, a inovação tecnológica, a sociedade sustentável, a equidade social, os direitos humanos e a participação democrática, contribuindo para a superação de desigualdades e para o exercício pleno da cidadania.
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Falta ao social brasileiro um sistema financeiro fora do caixa capital, algo referenciado por Maria da Conceição Tavares (1995). O próprio SINAPIR poderia servir de uma base nacional de dados para consolidar um programa de combate a pobreza entre outros. Nesse sistema reunir-se-ia todos os fundos como o FECP, FECAM etc. Falta a academia provocar as bases sociais e as cúpulas governamentais!!!🙄