Armazém do Território: espaço de economia solidária e cultura tradicional do FCT ocupa centro histórico de Paraty
- Caroline Nunes
- há 7 dias
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O objetivo do Armazém é consolidar a atuação econômica das frentes de luta do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) integrando atividades da Cozinha das Tradições, Frente de Agroecologia, Pesca Artesanal, Rede Nhandereko e GT Cultura

“Temos a casa dos povos e comunidades tradicionais no centro histórico de Paraty. Isso é inédito. É uma conquista”. É o que destaca Daniele dos Santos, liderança do FCT e vice-presidente da Associação de Moradores do Quilombo do Campinho (AMOQC).
Inspirado em experiências sociais bem-sucedidas – como a rede Armazém do Campo, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – , o Armazém do Território foi inaugurado em setembro de 2024 como uma iniciativa do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) para promover a economia solidária e a comercialização de produtos agroecológicos, artesanatos, acessórios e roteiros de Turismo de Base Comunitária (TBC). A iniciativa é apoiada pela Fiocruz, Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), Instituto de Educação de Angra dos Reis, da Universidade Federal Fluminense (IEAR/UFF), e ONG Verde Cidadania.
Localizado no centro histórico de Paraty (RJ), o Armazém representa um espaço estratégico de expressão política e cultural para as comunidades tradicionais. É o que destaca José Renato Sant'Anna Porto, professor da Universidade Federal Fluminense e integrante da equipe da Incubadora de Tecnologias Sociais (ITS) do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), uma parceria entre a Fiocruz e o FCT.
“Temos tratado o Armazém como a ‘casa’ dos povos tradicionais no centro histórico de Paraty, o que tem se consolidado também como um processo de retomada da presença das comunidades em um local que, há muitas décadas, tem sido elitizado e gentrificado”, avalia o professor.
No Armazém, os membros das comunidades tradicionais podem comercializar seus produtos, como roteiros de Turismo de Base Comunitária (TBC) da Rede Nhandereko, obras de artesanato, produtos agroecológicos e “comida de verdade”, segundo José Renato.

A ideia é consolidar a atuação econômica das frentes de ação do Fórum de Comunidades Tradicionais, articulando a rede de abastecimento para operar de maneira permanente e regular as ações da Cozinha das Tradições, da Frente de Agroecologia, da Frente da Pesca Artesanal, da Rede Nhandereko e do GT Cultura.
Participação das comunidades
Ronaldo dos Santos, Secretário de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades, afirmou durante a inauguração do espaço que nunca imaginou uma expansão tão grande das ações do FCT, que alcançaram Caraguatatuba, Mangaratiba, São Sebastião, Vale do Ribeira, entre outros locais. “Atravessamos as fronteiras nacionais e tecemos uma grande rede étnica, política, cultural, em defesa dos territórios”, destaca.
Os produtos comercializados no Armazém vêm de diferentes territórios e são resultado do trabalho das comunidades tradicionais. Atualmente, o Armazém também comercializa artesanatos e roteiros de Turismo de Base Comunitária (TBC), organizados pela Rede Nhandereko. Recentemente, também foram comercializadas cestas agroecológicas e produtos da Cozinha das Tradições.
Todos os membros das comunidades tradicionais organizadas pelo FCT podem comercializar no Armazém do Território, salienta o professor. Basta que procurem as representações das frentes de ação para se engajar no processo. No entanto, devido às dimensões do espaço e ao caráter experimental da organização, há limitações para acolher todos os interessados.
Contudo, o professor avalia que o espaço ocupado pelo Armazém do Território é fundamental para trazer maior visibilidade às questões das comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas da região da Bocaina.
“Hoje, para além de promover a economia solidária das comunidades tradicionais, com a venda de artesanatos, produtos agroecológicos e comida de verdade, o Armazém representa um espaço estratégico de expressão política e cultural para o Fórum de Comunidades Tradicionais, haja vista a grande visibilidade que tem o centro histórico e o calendário de atividades culturais da cidade de Paraty que ali ocorrem”, salienta Zé Renato.

Sidélia Silva, coordenadora da Incubadora de Tecnologias Sociais do OTSS, complementa a fala de José Renato destacando que o funcionamento do Armazém do Território se expressa como “um paradigma para a gente repensar nossa sociedade e também repensar como a gente tem contribuído com a ciência”, afirmou durante a inauguração do espaço em Paraty.
Futuro
Os planos para o futuro do Armazém do Território incluem consolidar a atuação econômica das frentes de luta do FCT, integrar redes de abastecimento de movimentos parceiros e ampliar a rede de comercialização entre os estabelecimentos das comunidades tradicionais.

Ivanildes Kerexu, liderança indígena da aldeia Yakã Porã (Rio Bonito/SP) e coordenadora do FCT, diz que o Armazém do Território serve de ponto crucial para fortalecer e intensificar as ações de TBC para as comunidades indígenas. Com um espaço mais adequado para a comercialização dos roteiros, o turismo se torna mais organizado e com mais pontos de venda.
“Para a gente é bom ter o roteiro na aldeia e no armazém, assim, mais pessoas conhecem o trabalho que estamos lutando pra fazer com o Turismo de Base Comunitária, para conseguir a soberania financeira do nosso território”, comenta.
Segundo o professor José Renato, a longo prazo, o objetivo é criar novas sedes do Armazém do Território em outros municípios de atuação do FCT, fortalecendo a comunicação política das agendas e bandeiras de luta do Fórum.

“Ainda nesta estratégia de ampliar a rede abastecimento, no nível local, o Armazém tem também como objetivo estruturar e qualificar a rede de comercialização entre os estabelecimentos das comunidades tradicionais, sobretudo do Turismo de Base Comunitária, para que comprem cada vez mais produtos da agricultura tradicional do território”, diz ele.
“Essa é uma dinâmica que já ocorre e tem como referência o restaurante do Quilombo do Campinho. Mas a ideia é que o Armazém possa colaborar para intensificação e ampliação desse processo de abastecimento dos empreendimentos de TBC da Rede Nhandereko”, finaliza o professor.
O Armazém do Território está localizado na Rua Luiz Antônio Mello Marques, nº 1 - Cais do Turismo, Praça da Bandeira (Paraty-RJ).
Por Caroline Nunes
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