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Maré de Saberes celebra sua primeira turma e finca os pés na luta pela defesa dos maritórios

De 21 a 25 de agosto de 2023, um momento histórico marcou o encontro das lideranças cursistas do "Maré de Saberes" dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Nesse período, durante a reunião ampliada do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT, as duas delegações se encontraram pela primeira vez, dando continuidade à sinergia e à colaboração construídas ao longo do curso.


O evento proporcionou uma oportunidade única para a troca de experiências e a partilha das percepções que cada grupo teve, ao longo do ano de aprendizado, reforçou ainda mais os laços entre as comunidades tradicionais e a resolução coletiva de lutar pela preservação de seus territórios e modos de vida.


Leila, liderança caiçara da Praia do Sono (Paraty), foi ao microfone reafirmar que aquele momento “era uma renovação para nós que somos lideranças e estamos nessa luta. Vamos juntos”.


O Maré de Saberes foi o primeiro curso da Rede de Formação Socioambiental do Projeto Redes. A formação reuniu, durante um ano inteiro, 80 líderes comunitários quilombolas, indígenas e caiçaras dos municípios de Ilhabela, São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba, Paraty, Angra dos Reis e Mangaratiba. Exercendo a prática e método da pedagogia da alternância entre o tempo escola e o tempo comunidade.

Durante o todo o percurso pedagógico, reuniões formativas debateram assuntos que fundamentam a luta política nos territórios: racismo ambiental, direito à memória, emergências climáticas e turismo de base comunitária, entre outros. O encontro marcou não apenas o encerramento de um ciclo de aprendizado, mas também o fortalecimento das vozes e estratégias dessas comunidades na luta pela preservação de seus territórios tradicionais.


Ao longo do curso, os participantes mergulharam profundamente nas complexidades de seus territórios e nas questões que os afetam diretamente. Questões como a exploração do pré-sal, o crescimento do turismo descontrolado e outros desafios ambientais e sociais foram discutidos em detalhes.


Um dos principais focos do curso foi a compreensão das ameaças que as comunidades tradicionais enfrentam. Os impactos da exploração do pré-sal na costa brasileira, por exemplo, foram analisados em profundidade. Os participantes estudaram as consequências socioambientais dessa atividade econômica, buscando entender como ela afeta suas vidas e territórios.


O conhecimento adquirido durante o curso também serviu como uma base sólida para que essas lideranças pudessem se posicionar de maneira mais informada e eficaz nas discussões públicas sobre a exploração de recursos naturais em suas áreas.


A cursista Queila Lara dos Santos afirma que a experiência no curso “me trouxe de volta a vontade do estudo e da leitura”. Queila, ao longo do curso, se instrumentalizou para reivindicar em Ilha Grande melhores condições para a escola da comunidade.


Além disso, Educação Diferenciada, Formação política, Racismo ambiental, Direito à memória e Estratégias para criação de roteiros de base comunitária foram aspectos que nortearam todo o curso e as atividades desenvolvidas no tempo comunidade.



Ao longo de todo curso, as turmas se debruçaram a compreender como são impactadas e como podem seguir criando estratégias de resistência. Durante o curso, estratégias de manejo sustentável do turis


mo também foram desenvolvidas com o objetivo de garantir que o setor beneficie as comunidades locais e respeite seus valores e modos de vida.


As lideranças comunitárias uniram forças, trocaram experiências e conhecimentos, e elaboraram planos de ação que visam a fortalecer suas comunidades e proteger suas terras ancestrais.


Durante a cerimônia de conclusão do curso, diversas lideranças compartilharam suas experiências e expressaram sua gratidão pelo curso "Maré de Saberes". Muitos enfatizaram que agora se sentem mais preparados para lidar com os desafios que suas comunidades enfrentam e para lutar pela preservação de seus territórios com mais determinação e conhecimento.


O curso "Maré de Saberes" não apenas instrumentalizou essas lideranças comunitárias, mas também criou uma rede de solidariedade e cooperação entre as comunidades quilombolas, indígenas e caiçaras dos municípios costeiros. Esse é um passo importante na construção de um movimento unido em prol da proteção dos territórios tradicionais e do bem-estar das gerações futuras.


Nas palavras de Tais Rafaela, liderança jovem do Quilombo da Caçandoca, “desejo que essa rede que nós formamos não se desfaça e que a conexão que nos trouxe aqui nos mantenha firmes e fortes no propósito de cuidar de nossos territórios e maritórios. Somos Maré de Saberes, somos maré de luta”.


Em um mundo onde as questões ambientais e culturais se tornam cada vez mais urgentes, o curso "Maré de Saberes" demonstra que o conhecimento e a união das comunidades tradicionais podem ser forças poderosas na preservação de seus territórios e na promoção de um futuro mais sustentável e equitativo.


Ouça o podcast completo sobre o Maré de Saberes, um bate-papo com as coordenadoras Aline Tavares e Roberta Lobo





Resultado de uma condicionante exigida à Petrobras pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, o Projeto Redes é uma política pública conquistada por comunidades tradicionais pesqueiras impactadas por empreendimentos de petróleo e gás natural no litoral norte de São Paulo e no litoral sul do Rio de Janeiro. A segunda fase do projeto é executada pela Fiotec/Fiocruz por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).


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