Aldeia Rio Bonito inaugura primeiro banheiro ecológico para fortalecer a saúde indígena no território
- Vinícius Carvalho
- há 14 horas
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A construção foi toda pensada junto à comunidade e o sistema escolhido foi o Bioete, que permite o tratamento de esgoto de até 60 pessoas por dia, função que auxilia os comunitários na promoção do Turismo de Base Comunitária

A Aldeia Rio Bonito, ou Yakã Porã, localizada no território Boa Vista, em Ubatuba (SP), realizou a inauguração do primeiro banheiro ecológico no último dia 11 de abril. O evento contou com a presença de lideranças indígenas, membros do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), parceiros da Fiocruz, da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS) e do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS).
Moradora da aldeia Rio Bonito, Ivanildes Kerexu, coordenadora Tenondé da Comissão Guarani Yvyrupá (CGY), liderança do FCT e pesquisadora do OTSS, destaca a importância do saneamento para a saúde indígena. Segundo ela, a saúde vai além do acesso a remédios e postos de saúde, envolvendo também o espaço, a tradição e a independência financeira do território.
“Esse banheiro é fundamental para o Turismo de Base Comunitária [TBC], espaço para que a gente fale do nosso território, do nosso dia-a-dia, da nossa realidade. O TBC também tem a ver com a nossa luta e o saneamento, o banheiro ecológico fortalece essa luta”, salienta a liderança indígena.
Segundo Vagner Nascimento, coordenador geral do FCT e do OTSS, o banheiro ecológico foi construído graças à luta e mobilização das comunidades tradicionais, que há anos reivindicam melhorias no saneamento dos territórios. Mais que uma obra, o banheiro representa saúde e bem-viver, de acordo com ele.
“Acompanhei de perto o trabalho braçal desta comunidade. E é importante esse crescimento, para que a luta do Fórum [de Comunidades Tradicionais] seja sempre levada em consideração para a melhoria da vida nos territórios. Saúde é isso que temos aqui, um território cuidado. O território da vida das comunidades”, destaca o coordenador.
Marcela Cananéa, liderança do Fórum de Comunidades Tradicionais e coordenadora do eixo de Justiça Socioambiental do OTSS, avalia que é função do Estado promover a saúde e o saneamento nos territórios, e que a luta por dignidade e saúde é contínua para que as comunidades tenham autonomia em todos os processos que ocorrem em suas terras.
“O banheiro está sendo construído junto com as aldeias. Eles [indígenas] escolhem onde vai ser, como vai ser”, completa.
Participação comunitária
Com o apoio e trabalho da comunidade indígena, a Aldeia Rio Bonito agora conta com um banheiro ecológico construído com a tecnologia Bioete, que é um sistema pré-fabricado de tratamento de esgoto.
A equipe da OTSS apresentou três opções de sistemas de tratamento de esgoto para a comunidade, que escolheu o Bioete por sua eficiência, facilidade de instalação e custo adequado. É o que diz Tito Cals, engenheiro da equipe de Saneamento Ecológico da Incubadora de Tecnologias Sociais (ITS) do Observatório.
“A construção do banheiro ecológico foi precedida por um processo de planejamento participativo, que envolveu a comunidade local em todas as etapas. A equipe da OTSS realizou visitas de diagnóstico, oficinas de desenho e reuniões com a comunidade para entender suas necessidades e incorporar suas ideias no projeto”, ressalta o engenheiro.
Tito explica que o sistema Bioete é um tanque cilíndrico de 1,80m de altura e 70cm de diâmetro, que consegue tratar o esgoto de até 60 pessoas por dia. Após o tratamento, o efluente é infiltrado em um núcleo de fertilidade, em que são plantadas espécies nativas, como bananeiras e taiobas.
“Essas plantas [taiobas] podem ser consumidas após cozimento ou fritura, e as bananas podem ser consumidas sem problemas”,
O engenheiro da Incubadora pondera que as obras de saneamento devem servir de exemplo para outras comunidades que buscam a promoção da saúde e o desenvolvimento local. Para ele, a construção do banheiro é o primeiro passo para alcançar a soberania indígena dos territórios.
“A gente sempre vai pensar como uma estrutura pode ser referência e inspiração e mostrar para outras instituições que é possível fazer saneamento junto à comunidade de forma respeitosa às suas tradições”, conclui.
A equipe do Observatório e do Fórum já está planejando o próximo projeto de saneamento ecológico, que será realizado na Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis (RJ). O objetivo é continuar trabalhando em parceria com as comunidades tradicionais para garantir a saúde e a qualidade de vida nos territórios.
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Texto: Caroline Nunes | Edição: Juliana Vilas | Imagem: Vinícius Carvalho (OTSS)