Reunidos em três dias de atividades, cerca de 30 pessoas estiveram na comunidade caiçara da Almada para discutir o fortalecimento da pesca e a criação do plano de manejo da APA Marinha Litoral Norte
Dentro de um diverso território marítimo, a pesca é fruto de saberes antigos que são passados a cada nova geração. A cidade de Ubatuba possui comunidades pesqueiras que mantêm, com muita luta, a pesca como fonte de renda, sustento e tradição. Atualmente, acontece o processo de construção do Plano de Manejo da APA Marinha Litoral Norte do estado de São Paulo, que pode modificar intensamente os territórios da pesca na região.
Motivado por esse processo, o projeto "Fortalecimento das Comunidades Pesqueiras" teve sua primeira etapa realizada durante os dias 18 a 20 de março na comunidade caiçara da Almada em Ubatuba. Os três dias de oficina tiveram como objetivo preparar lideranças pescadores para protagonizar em seus territórios as discussões do plano de manejo da APA Marinha Litoral Norte, além de construir estratégias de fortalecer o GT Pesca do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), a Coordenação Nacional de Comunidades Tradicionais Caiçaras (CNCTC) e a Associação de Moradores da Almada (AMA).
A iniciativa conta com o apoio do Instituto Linha D’água, do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) e da Associação de Amigos e Remadores da Canoa Caiçara (Aarcca). Nesta atividade, cerca de 30 pessoas estiveram presentes, entre elas pescadoras e pescadores de Ubatuba, São Sebastião, Caraguatatuba e Paraty, integrantes do Fórum de Comunidades Tradicionais, da equipe do OTSS, da APA Marinha e também do Linha D'água.
O primeiro dia de evento discutiu questões nacionais e estaduais da pesca, o segundo dia, foi direcionado a compreender o que é o plano de manejo e como ele pode impactar na vida do povo da pesca. O terceiro dia de atividade foi focado na construção de um mapa da pesca, fazendo com que os presentes pudessem identificar seus usos e práticas, contrastando com o mapa apresentado pela APA Marinha para que, dessa forma, possam tentar diálogos com a instituição.
Por um plano que faça sentido para aqueles que pescam
"Durante a realização da oficina discutimos a forma que será conduzido o processo do plano de manejo da APA Marinha e tivemos um momento importante em que pudemos nos reconhecer e nos inserirmos no mapa, considerando a valorização de nossas diversas formas de saber e fazer e de uso sustentável de nosso território", conta Carolina Barbosa, caiçara do Ubatumirim que integra o FCT e a equipe do OTSS.
A programação contou com metodologias participativas para que as pescadoras e pescadores presentes pudessem intercambiar seus saberes sobre a pesca tradicional e o quão fundamental é a participação na construção de um plano de manejo que contemple o olhar daqueles que de fato "saem para o mar" para pescar.
"Quem deve fazer esse plano somos nós, os caiçaras tradicionais. Por isso, temos que participar de tudo, prestar atenção e fazer o manejo da pesca da forma que acreditamos", alerta Alexandre Marcos Líbano de Oliveira, da comunidade caiçara de Toque Toque Pequeno em São Sebastião. Segundo ele, o pescador sai profundamente prejudicado quando o estado não executa um processo de escuta das comunidades caiçaras e chega com mapas e projetos prontos.
Caminho para fortalecer a pesca e os territórios
O projeto "Fortalecimento das Comunidades Pesqueiras" irá promover, além desse evento, mais oficinas e reuniões para mobilização dos pescadores para que possam atuar diretamente na construção do plano de manejo e dará sequência nas discussões das pautas específicas da pesca nos diversos territórios de abrangência do FCT.
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