TERESA iniciou o ciclo de formação com a presença da griô, artista e educadora Laura Santos, além de representantes das organizações parceiras na construção da iniciativa.
No último dia 1 de abril, aconteceu no Quilombo do Campinho da Independência, em Paraty (RJ), a aula inaugural da segunda turma do curso de pós-graduação TERESA - Gestão de Territórios e Saberes. O curso teve início em 2020, com sua primeira turma, e tem como principal público discente lideranças, ativistas e servidores públicos da região de incidência política do Fórum de Comunidades Tradicionais - Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT).
Organizada a partir das experiências do Fórum no território da Bocaina, a pós-graduação é fruto de uma união entre a Universidade Federal Fluminense (UFF), o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) - uma parceria entre a Fiocruz e o FCT -, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e a Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ).
Regado com o café da tarde quilombola, o evento contou com a recepção da presidenta da Associação dos Moradores do Quilombo do Campinho (AMOQC), Daniela Elias, que apresentou a história e os atuais projetos da comunidade.
Também estiveram presentes representantes das instituições parceiras envolvidas na organização da TERESA, que deram um breve panorama do contexto da construção do curso e das perspectivas para essa nova turma
“Estar no território é fortalecer as agendas do FCT. A pós-graduação, TERESA é forjada nesse processo. É um projeto político da universidade no território”, explica José Renato da UFF.
Ivanildes Kerexu, da Aldeia Rio Bonito, em Ubatuba (SP), pesquisadora do OTSS e representante do FCT, destacou também essa ponte. “TERESA é uma conquista das comunidades tradicionais. A gente acredita que vai ser muito bom para nós e para o meio ambiente, para o bem estar de todos”, pontuou a liderança Guarani.
Já Carlos Felipe Abirached, coordenador de Gestão Socioambiental e Populações do ICMBio Paraty, colocou que a pós-graduação ajuda o órgão a vencer desafios de uma política ambiental fundada na região de um “modo colonial”, como definiu ele, e antes do reconhecimento do território.
“TERESA é um pouco do que o ICMBio faz para possibilitar pontes. Ainda é um desafio dentro do órgão essa relação com as comunidades tradicionais”, relata Abirached.
A aula contou ainda com a participação especial da griô, educadora e artista Laura Santos, liderança do Campinho, que ressaltou a responsabilidade dos pesquisadores com o território e comunidades e fez uma convocação: “Se sintam orgulhosos por estar na TERESA, no final do ano eu quero saber qual será o projeto de pesquisa de vocês para a região. A defesa do território está atrelada a diversos desafios: educação, cultura, turismo, etc. Aonde a gente avança?”.
Lício Monteiro, professor de Geografia do IEAR/UFF e coordenador do curso TERESA, relembrou um ensinamento da própria griô Laura com a frase “a cabeça pensa onde os pés pisam” ao evidenciar a ideia de gestão de territórios de saberes presente na pós-graduação.
Ele ampliou a convocação de Laura aos estudantes para que seja uma “conspiração”, no sentido de “se inspirar em conjunto” e encerrou lançando também um chamado: “ocupar um lugar de poder para esvaziar o poder do lugar”, definiu o coordenador.
Com duração de um ano e meio, a especialização está dividida em seis bimestres que somam 360 horas de aulas presenciais. As disciplinas obrigatórias são: Território e territorialidades; Interculturalidade e saberes; Políticas Públicas, Estado e sociedade; Metodologias e Projeto 1 e 2 e Seminários de Pesquisa. As aulas serão oferecidas em duas turmas, com 20 estudantes cada, sendo uma em Paraty e outra em Angra dos Reis, nas dependências das instituições envolvidas. Ao final do curso os alunos deverão apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolvido ao longo do ano.
Na mesma semana da aula inaugural foi realizada a defesa do primeiro Trabalho de Conclusão de Curso, “A mulher e a pesca: um olhar sobre a atuação feminina na atividade pesqueira no município de Paraty”, feita pela aluna Lígia Bernadochi da primeira turma da pós-graduação.
Por que Teresa?
"O nome Teresa foi dado porque une as iniciais de Território e Saberes e poderia ser uma mera sigla no entanto resulta num nome próprio e muito forte, Teresa, com o qual podemos homenagear Teresa de Benguela, que viveu no Mato Grosso, no século XVIII e foi a líder do Quilombo de Quariterê", conta Licio Monteiro. Ele também ressalta que Teresa de Benguela é homenageada no dia 25 de julho, dia internacional da mulher negra latino-americana e caribenha e dia nacional Teresa de Benguela. "A escolha foi muito feliz e consegue trazer significados que apontam na direção do que queremos para o curso", finaliza.
Mais informações no site:
http://app.iear.uff.br/teresa/
Dúvidas pelo e-mail:
posgraduacaoteresa@gmail.com
Texto e fotos: Marina Duarte de Souza
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