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Território sagrado e repleto de saberes, Maré de Saberes se encontra com a história de seus povos

Em dezembro do ano passado, chegou ao fim o segundo módulo do curso Maré de Saberes. Os encontros aconteceram em Boiçucanga (São Sebastião -SP) e em Angra dos Reis (Rio de Janeiro), reunindo lideranças de diferentes comunidades e gerações que têm a pesca e a maricultura como tradição, atividade econômica e espaço de luta.


Em Boiçucanga, os cursistas elaboraram uma linha do tempo dos impactos da exploração do pré-sal e da especulação imobiliária nos territórios tradicionais da região. “Estava um sudanga, de repente, ele encarneirou e não tinha barreira para conter o vazamento do óleo”, narrou Halsey Madeira, pescador artesanal de São Sebastião, contando ao grupo sobre vazamento de 2013 que comprometeu a atividade pesqueira e turística na região.


Ao lado dos impactos da exploração de pré-sal, outros fatores foram abordados, como a especulação imobiliária e a pesca industrial. “Os pescadores de bota branca são um risco para nós, pescadores artesanais”, enfatizou Leninha, da Colônia de Pesca de Caraguatatuba.


Os cursistas do Rio de Janeiro se debruçaram nas temáticas e práticas do Turismo de Base Comunitária (TBC), disputa por terra e saber tradicional. O grupo visitou a Aldeia Sapukai, território guarani mbya. Durante o roteiro, os cursistas ouviram as histórias da comunidade, participaram de oficina de artesanato e puderam tomar banho na cachoeira.


Na busca por ouvir as diferentes histórias de luta do território, o grupo esteve reunido com mulheres quilombolas para falar sobre a luta pelo direito à terra. Ao longo do encontro Vânia Guerra e Marilda Souza, griots quilombolas da Marambaia e Santa Rita do Bracuí, respectivamente.


Vânia Guerra, liderança e mestra griot do quilombo da Marambaia (Mangaratiba-RJ), reafirmou o compromisso de preservação à vida para os povos tradicionais, frente ao atual modelo de produção e consumo: "não se planta o que não vai comer. Não se mata o que não vai comer. Não se acumula coisas porque depois vão brigar por essas coisas".


Sobre a importância dos saberes tradicionais, da oralidade e transmissão do conhecimento dos povos, mestra Marilda afirmou que "a primeira vez você ouve a história, a segunda você ouve para lembrar e a terceira você ouve para não esquecer".


A liderança guarani Luiza Kerexu enfatizou que o poder dos povos tradicionais mora em não se perder das origens ancestrais, nas palavras de Kerexu "somos os povos Marae'y, que significa terra sagrada. Este território é nosso: dos povos quilombolas, indígenas e caiçaras".


Prestes a iniciar o módulo três, o Maré de Saberes é o primeiro curso da Rede de Formação Socioambiental. O Projeto Redes é fruto de uma parceria com a Fiotec/Fiocruz por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Resultado de uma condicionante exigida à Petrobras pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, o Projeto Redes é uma política pública conquistada por comunidades tradicionais pesqueiras impactadas por empreendimentos de petróleo e gás natural no litoral norte de São Paulo e no litoral sul do Rio de Janeiro.







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