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Da palmeira ao prato: Semana “A Juçara é Nossa” conecta escolas à tradição no Ubatumirim

  • Foto do escritor: Caroline Nunes
    Caroline Nunes
  • 19 de nov.
  • 3 min de leitura

Atividade de educação ambiental reuniu estudantes do Norte de Ubatuba para vivenciar a relação entre o fruto da palmeira-juçara à alimentação escolar e cultura caiçara


Crianças da rede pública de ensino na sede da ABU, no Ubatumirim, durante a semana "A Juçara é Nossa" .
Crianças da rede pública de ensino na sede da ABU, no Ubatumirim, durante a semana "A Juçara é Nossa" | Créditos: OTSS

Entre os dias 3 e 6 de novembro, a comunidade tradicional do Sertão do Ubatumirim, em Ubatuba (SP), recebeu a Semana “A Juçara é Nossa”, uma programação voltada à valorização da palmeira-juçara — espécie nativa da Mata Atlântica que simboliza a resistência e o modo de vida caiçara. Nos dois primeiros dias, o foco foi a educação ambiental e a alimentação escolar, com a visita de cerca de 150 estudantes da rede municipal do Norte do município.


A atividade foi realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Ubatuba e a Fundação Florestal/SEMIL, e contou com uma visita guiada à unidade de beneficiamento de juçara da ABU (Associação dos Bananicultores do Ubatumirim), palestra formativa sobre a importância cultural, econômica e ambiental da espécie, e uma degustação de produtos à base de juçara.


Educação, território e alimento com identidade


As crianças de escolas das comunidades do Puruba, Picinguaba e Ubatumirim puderam ver de perto como o fruto da juçara se transforma em polpa e chega até a merenda escolar — um aprendizado que une saberes tradicionais e sustentabilidade.


“É extremamente importante a juçara na alimentação escolar. Ela melhora a qualidade da comida, dá energia e contribui para o desempenho das crianças nos estudos”, explica Susan Mara, cozinheira da Escola Municipal Manoel Inocêncio Alves dos Santos, do Sertão do Ubatumirim. 


Para ela, o alimento é também um elo entre educação e tradição. “Os alunos comem a juçara e depois conhecem o plantio, veem de onde vem. Isso nos ensina a valorizar o alimento e o território”, avalia. 


Conhecimento que nasce da experiência


Para Andréia Ramos de Araújo, agente educacional da Escola José Belarmino Sobrinho, do bairro Puruba, trazer as crianças para vivenciar o manejo da juçara é uma forma de fortalecer a identidade local. 


“É muito bom eles aprenderem sobre a cultura dos pais e avós. Assim mantêm viva essa tradição e levam isso para a vida. Um dia podem precisar, podem ser agricultores também”, diz.


Já a gestora Talita Salomão, da Escola Professora Iberê Ananias Pimentel, da Praia da Picinguaba, destaca o papel pedagógico da experiência.


“As visitas são importantes para mostrar de onde vem o alimento. Às vezes eles comem a juçara na escola e acham que é só o que está no potinho. Aqui entendem que há todo um processo — plantar, cuidar, colher. Isso desperta a curiosidade e o sentimento de pertencimento.”


Da floresta para a alimentação escolar


A professora Vânia Barbosa, também da Escola Manoel Inocêncio Alves dos Santos, lembra que o trabalho com a juçara é, antes de tudo, uma forma de resgatar saberes e garantir renda local. 


“Antigamente o pessoal cortava o palmito da juçara para comer, sem saber o valor que tinha. Hoje aprenderam a aproveitar o fruto, tirar a polpa e fazer disso uma fonte de renda importante e valorizada”, conta.


Esse mesmo elo entre tradição e economia sustentável é o que move o produtor Jairo dos Santos, da comunidade do Ubatumirim. Associado à ABU, ele explica que o beneficiamento da juçara sustenta boa parte da comunidade.


“A economia do Ubatumirim gira em torno da juçara. É o que mantém muitas famílias. As crianças veem isso desde pequenas e aprendem o valor da palmeira. A juçara é uma importante fonte de renda para o território, especialmente com o PNAE, o Programa Nacional de Alimentação Escolar”, afirma.


Saberes que alimentam o futuro


Segundo Jairo, apenas neste ano foram 1.300 quilos de mix de juçara distribuídos para as escolas municipais de Ubatuba no Dia das Crianças, comemorado em 12 de outubro, isso sem contar a polpa, que ultrapassa esse valor.


Mais do que uma programação educativa, a Semana “A Juçara é Nossa” reforça um movimento que vem sendo construído coletivamente no território: o de reconhecer na juçara um símbolo de resistência, sustentabilidade e soberania alimentar.


Como resume a cozinheira Susan Mara, “a juçara traz qualidade para a merenda, ensina sobre o território e fortalece a nossa cultura. É um alimento que educa.”


Por Caroline Nunes


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