Selecionada no contexto do Edital Terra 2030, biblioteca digital trará registro e sistematização de práticas seculares já implementadas por comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas situadas no litoral sul do Rio de Janeiro e litoral norte de São Paulo.
Criado a partir de uma parceria entre a Fiocruz e o Fórum de Comunidades Tradicionais, o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis participou, este mês, de um encontro virtual com as demais experiências vencedoras do Edital Terra 2030, promovido pela Estratégia da Fiocruz para Agenda 2030 em conjunto com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
O edital tem como objetivo apoiar projetos e ações estratégias territorializadas – que são desenvolvidos e parceria com os movimentos sociais do território – e que sejam estruturantes na superação das situações de vulnerabilidades socioambientais com ênfase no desenvolvimento de territórios sustentáveis e saudáveis a partir da articulação entre educação, redução das desigualdades, saúde e bem estar. Complementarmente, busca-se promover os aspectos aspiracionais da Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O OTSS foi selecionado pelo edital para implementar o projeto "Biblioteca de Tecnologias Tradicionais da Bocaina", que visa preservar, sistematizar e disseminar técnicas seculares desenvolvidas e utilizadas por comunidades tradicionais indígenas, caiçaras e quilombolas para a promoção da saúde e do desenvolvimento sustentável.
Este conhecimento, fruto de séculos de interação harmoniosa com o ambiente, enfrenta o risco de desaparecimento devido à crescente pressão sobre os territórios tradicionais e à falta de mecanismos eficazes de registro e transmissão entre gerações. A proposta busca preencher essa lacuna, contribuindo para que tais práticas não se percam no tempo.
"Hoje, no território, as práticas tradicionais são demonizadas e depois comercializadas, tanto pela especulação imobiliária como pelas Unidades de Conservação (UCs). A gente conseguir mapear essas praticas de forma verdadeira, ouvindo quem realmente é detentor do saber, é uma ferramenta de luta importante pra afirmar nosso povo no território", destaca Ariane Rosa, integrante do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) e pesquisadora da Incubadora de Tecnologias Sociais do OTSS.
A iniciativa representa também o aprofundamento da "Biblioteca de Tecnologias Sociais da Bocaina", atualmente em fase de finalização pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis (OTSS) como parte do primeiro edital Terra 2030. Se este se concentrou em Tecnologias Sociais reaplicadas diretamente pela Fiocruz e pelo Fórum de Comunidades Tradicionais em parceria com comunidades indígenas, caiçaras e quilombolas de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba, a presente iniciativa busca agora enfocar o registro, a sistematização e a disseminação de tecnologias seculares desenvolvidas autonomamente e de forma direta por estas comunidades.
“Sobre o manejo de tecnologias nas comunidades, enfatizamos a importância das tecnologias tradicionais que são fundamentais para defesa dos modos de vida tradicionais, ao mesmo tempo em que se adapta a novas situações. Essas tecnologias, muitas vezes esquecidas, estão intimamente ligadas ao território, biomas e realidades locais. Ao mapear e valorizar essas tecnologias junto às comunidades, podemos encontrar alternativas importantes para enfrentar as mudanças climáticas, valorizar a cultura, criar oportunidades e evitar o êxodo da juventude nos territórios”, destaca Sidélia Silva, coordenadora da Incubadora de Tecnologias Sociais do OTSS.
Além da experiência do OTSS, o Edital Terra 2030 também contemplou os seguintes projetos: Cultivando os ODS da Agenda 2030 no Currículo Carioca; Soroprevalência para arboviroses em população indígena Pataxó; Projeto Logadas – Letramento Digital de Meninas para Mulheres; e Estratégias de comunicação para a promoção da saúde em comunidades da pesca artesanal em Recife-PE.
Sobre o OTSS
Criado a partir de uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) é um espaço tecnopolítico de geração de conhecimento crítico, a partir do diálogo entre saber tradicional e científico, para o desenvolvimento de estratégias que promovam sustentabilidade, saúde e direitos para o bem viver das comunidades tradicionais em seus territórios.
Sob a coordenação da Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS) e com o apoio da da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), o OTSS atua em territórios indígenas, quilombolas e caiçaras localizados no litoral norte de São Paulo e no litoral Sul do Rio de Janeiro a partir de quatro eixos temáticos: Governança Viva, Justiça Socioambiental, Educação Emancipatória e Economia Solidária.
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