Fiocruz monitora efetividade de saneamento ecológico em territórios tradicionais de RJ e SP
- Juliana Vilas
- 28 de jul.
- 3 min de leitura
Promovida pela ENSP e pelo OTSS, ação visa o acompanhamento constante da qualidade da água e do funcionamento dos sistemas de saneamento implementados pela Fiocruz em articulação com o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT)

A parceria entre o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) e o laboratório da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) representa um avanço importante na gestão ambiental e de saneamento nas comunidades tradicionais. Essa colaboração tem como foco principal a realização de análises laboratoriais que avaliem a eficiência dos sistemas de saneamento, especialmente no que diz respeito à qualidade da água utilizada para consumo humano e ao tratamento de esgoto.
Segundo Tito Cals, engenheiro da Incubadora de Tecnologias Sociais (ITS) do OTSS, a iniciativa busca internalizar os processos de análise, tornando-os mais acessíveis e alinhados às necessidades locais. Ele destaca que a parceria surgiu após uma série de reuniões em que foram levantadas as demandas específicas das comunidades, envolvendo saneamento, agroecologia e pesca artesanal junto a comunidades tradicionais situadas no litoral sul do Rio de Janeiro e no litoral norte de São Paulo.
“A ideia é que a gente possa fazer essas análises aqui, dentro do nosso próprio território, sem precisar recorrer a laboratórios externos, que muitas vezes representam custos elevados e processos burocráticos”, explica.
Essa autonomia é fundamental para que as comunidades possam monitorar de forma contínua a qualidade da água e a eficiência dos sistemas de tratamento, promovendo uma gestão mais participativa e consciente dos recursos.
Projeto começou com aldeias indígenas
A primeira fase do projeto envolveu visitas técnicas a três comunidades: Aldeia Rio Bonito (SP), Aldeia Itaxi e Aldeia Sapukai (RJ), onde foram mapeados os locais de nascentes de água e pontos de coleta de amostras.
“Conhecer a logística local, entender como as amostras serão transportadas e garantir que cheguem ao laboratório em condições ideais é essencial para obter resultados confiáveis”, salienta o engenheiro. Essa etapa também permitiu alinhar as diretrizes técnicas e operacionais entre as equipes do OTSS, ENSP e as comunidades, garantindo que o processo seja eficiente e sustentável.
Outro aspecto destacado por Tito é a elaboração de um cronograma anual de análises, que leva em consideração a capacidade operacional da Escola Nacional de Saúde Pública e as demandas específicas de cada comunidade.
“Estamos pensando na frequência dessas análises, para que elas possam fornecer dados constantes e úteis para a tomada de decisão”, afirma. A periodicidade é fundamental para detectar possíveis problemas de contaminação ou falhas nos sistemas de saneamento, possibilitando correções rápidas e eficazes.
Tito reforça que essa iniciativa não é apenas técnica, mas também um movimento de fortalecimento das comunidades e de valorização do conhecimento local.
“Ao internalizar as análises laboratoriais, estamos promovendo autonomia, empoderamento e uma gestão mais participativa do saneamento. Nosso objetivo é que as comunidades possam acompanhar de perto a saúde de seus recursos hídricos e atuar de forma preventiva, garantindo qualidade de vida e sustentabilidade para todos.”
Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da ENSP/Fiocruz vai analisar qualidade da água consumida por moradores da região
Como parte da iniciativa, o Laboratório do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA) da ENSP/Fiocruz será responsável, num primeiro momento, pela análise de parâmetros de qualidade da água destinada ao consumo humano. Numa etapa posterior, serão avaliados também parâmetros em amostras de efluentes domésticos tratados por soluções de Saneamento Ecológico, a fim de mensurar a eficiência desses sistemas.
Além disso, há outras demandas encaminhadas pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), que o DSSA pretende atender a médio prazo, por meio de parcerias com outros atores e instituições.
“O DSSA vai atuar na produção de dados analíticos para garantir o acesso à água segura para os moradores, em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6, meta 6.1, que visa universalizar o acesso à água potável para todos. Essa é uma medida essencial de proteção à saúde das populações locais, pois ajuda a prevenir doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI) e a promover saúde. A iniciativa também contribui para o fortalecimento dos modos de vida tradicionais dessas comunidades”, destaca o grupo de pesquisa do DSSA/ENSP responsável pela coordenação do projeto.
Atualmente, o projeto se encontra em fase de planejamento logístico. Já foram realizadas visitas a três aldeias para avaliar as condições para a coleta e o transporte das amostras até o laboratório do DSSA, localizado no Campus Maré da Fiocruz. Em breve, será iniciada a etapa de coletas, que permitirá a geração dos primeiros resultados das análises laboratoriais da água após a implementação das intervenções.
Por Caroline Nunes (OTSS) e Tatiane Vargas (ENSP).



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