Missão internacional destaca Rede Marangatu e iniciativas do OTSS em diálogo com instituições parceiras e apresentações em encontros acadêmicos
- Débora Monteiro
- 1 de set.
- 7 min de leitura
Equipes do OTSS e da Rede Marangatu estiveram no primeiro semestre de 2025 na cerimônia de entrega do título de Doutor Honoris Causa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Universidade Paris 8 (França); no Workshop Internacional “Serviços Ecossistêmicos Culturais e Patrimônio Biocultural”, na Universidade de Coimbra (Portugal); no 61° Encontro Anual da Associação para Biologia Tropical e Conservação (ATBC), realizado em Oaxaca (México); na X Conferência Latino-americana e Caribenha de Ciências Sociais - CLACSO, em Bogotá (Colômbia); e na Breda University of Applied Sciences - BUas (Países Baixos), ampliando o diálogo para cooperação científica com a Academy for Tourism, Leisure and Technology.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu no dia 06 de junho de 2025 o título de Doutor Honoris Causa pela Université Paris 8, na França, e equipes do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) e da Rede Marangatu estiveram presentes acompanhando de perto a cerimônia. Acompanharam a solenidade Mario Moreira, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Edmundo Gallo, coordenador geral do OTSS; Juliana Carvalho, assessora de cooperação internacional do OTSS; e Júlia Borges, coordenadora executiva da Rede Marangatu.
Para Gallo, o reconhecimento ao presidente Lula evidencia o quanto é fundamental valorizarmos cada vez mais o saber não acadêmico como parte essencial da construção do conhecimento e da democracia. “Sabemos o quanto o trabalho ativo de diálogo entre saberes é importante para a cooperação internacional, indispensável na construção de pontes para transformar territórios no trabalho”, pontuou Gallo.
Resultado de uma parceria entre a Fiocruz e o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), o OTSS desenvolve, em cooperação com a Université Paris 8, projetos voltados à valorização dos saberes tradicionais e à articulação com a ciência acadêmica, com foco na promoção da saúde, na justiça socioambiental, educação emancipatória e no fortalecimento do desenvolvimento sustentável.
Diálogos sobre patrimônio biocultural e sustentabilidade
A missão internacional das equipes do OTSS e da Rede Marangatu também esteve na Universidade de Coimbra, em Portugal, participando do Workshop Internacional “Serviços Ecossistêmicos Culturais e Patrimônio Biocultural”. Com um dia de webinar e dois dias de Conferência, a iniciativa teve apoio do Programa MAB da UNESCO e foi coorganizada pelo JPI Climate, JPI Cultural Heritage e pelo Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.

A parceria entre a Fiocruz e o FCT foi destaque no Painel ‘Abordagem territorial e patrimônio biocultural: conectando governança, saberes locais e proteção da sociobiodiversidade”, com a apresentação Governança Territorial e Patrimônio Biocultural: Caminhos para a Sustentabilidade conduzida por Edmundo Gallo, que compartilhou informações do trabalho de governança viva, planejamento territorializado e articulação com lideranças comunitárias que atuam na proteção de territórios tradicionais e seus modos de vida.
“Reconhecer o patrimônio biocultural é entender os territórios como espaços de conhecimento, práticas tradicionais e conservação da vida. As tecnologias sociais articulam o conhecimento tradicional e científico para fortalecer a gestão participativa da sociobiodiversidade, e o apoio e parceria de várias instituições do Brasil e de outros países é primordial para realizarmos os nossos trabalhos no OTSS/Fiocruz”, Edmundo Gallo, coordenador geral do OTSS.
A conexão entre gestão costeira, crise climática e ações de conservação foi tema da fala de Júlia Borges, coordenadora executiva da Rede Marangatu, na apresentação: Gestão costeira e marinha e o programa de proteção da biodiversidade do Brasil a partir da Rede Marangatu: conectando patrimônio biocultural e ações de conservação. Júlia movimentou reflexões sobre como a crise climática não é apenas um fenômeno ecológico.
“A Rede Marangatu é uma rede de ciência cidadã que une instituições científicas nacionais e internacionais, movimentos sociais e Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) para fortalecer os processos de governança e gestão territorial comunitários e apoiar a promoção de políticas de conservação e valorização da sociobiodiversidade costeira marinha do Brasil”, Júlia Borges.
A Rede Marangatu se expande por toda a costa brasileira e além das fronteiras nacionais, conectando comunidades, universidades e movimentos sociais em torno da valorização dos territórios tradicionais frente às emergências climáticas. A gestão da rede garante o fio metodológico e organizacional do processo, articulando os diferentes núcleos regionais e internacionais. No Sul, a Marangatu integra a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em diálogo direto com a Universidade do Chile. No Nordeste, reúne o Fórum de Comunidades Tradicionais de Sergipe e a Universidade Federal de Sergipe (UFS). No Norte, soma forças com a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Estadual do Pará (UEPA) e o Observatório do Mangue. Já no eixo Coimbra, conecta a Paraíba ao Centro de Ecologia Funcional e à Universidade de Coimbra.
A Marangatu Sudeste atua nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e está integrada pelo FCT, pelo OTSS, pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e pela Universidade de Aveiro (em Portugal). Desde o ano passado as equipes vêm trabalhando na implementação de polígonos territoriais determinados pelas próprias comunidades tradicionais como protótipos para gestão costeira e marinha no RJ e SP. Estas áreas geográficas funcionam como instrumentos de governança que fortalecem a soberania das comunidades sobre seus territórios. O modelo, em construção no Sudeste, conta com uma rede colaborativa nacional e internacional que trabalha para adaptar sistemas de governança com efetivo protagonismo comunitário, estabelecendo bases para políticas públicas que poderão ser aplicadas em outras regiões costeiras do Brasil.
A Rede Marangatu faz parte do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) e conta com o apoio e financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Saberes acadêmicos e conhecimentos ancestrais
Os trabalhos de Vagner do Nascimento, coordenador do FCT e integrante da Coordenação Geral do OTSS; Ana Flávia Pinto e Roberto dos Santos (conhecido como Chico da Almada), pescadores artesanais, pesquisadores comunitários do OTSS e lideranças do FCT; e pesquisadoras e pesquisadores acadêmicos do OTSS e da Rede Marangatu foram divulgados no 61° Encontro Anual da Associação para Biologia Tropical e Conservação (ATBC).
Um dos principais eventos científicos do mundo dedicados à biologia e conservação de ecossistemas tropicais, o Encontro realizado em Oaxaca, no México, concedeu neste ano o título de "2025 Honorary Fellow" ao pesquisador Geraldo Wilson Fernandes, coordenador do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (ICNT/CNPq/MCTI) e do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio/MCTI). A premiação é uma das mais importantes honrarias no campo da ecologia tropical e reforça a relevância da pesquisa brasileira para a conservação dos biomas tropicais.
Reafirmando o compromisso com a valorização de saberes ancestrais e estratégias para justiça climática e o Bem Viver, no simpósio Redes de Pesquisa Colaborativa: Aproveitando o Conhecimento Local e a Ciência Global para a Conservação Tropical a pesquisadora Júlia Borges apresentou dois trabalhos que destacam a integração entre saberes tradicionais e científicos para a conservação de territórios costeiros e marinhos:
1. Governança Territorial e Patrimônio Biocultural: Integrando Saberes Tradicionais e Científicos para Territórios Costeiros e Marinhos Sustentáveis
Autoria: Edmundo Gallo, Júlia Borges, Vagner do Nascimento, Márcio Santos
2. Soberania de Dados e Ciência Cidadã Participativa: Colaborações para a Governança de Territórios Costeiros e Marinhos
Autoria: Júlia Borges, Edmundo Gallo, Lizandra Zanon, Allan Yu Iwama, Luciana Araújo de Paula, Márcio Santos, Ana Flávia Pinto
Celebrando a conexão e a transformação
A Rede Marangatu foi destaque também na X Conferência Latino-americana e Caribenha de Ciências Sociais (CLACSO), em Bogotá, Colômbia. No painel “Governança Territorial e da Água para o Buen Vivir”, a apresentação Descolonizando a Água: O Ciclo Hidrossocial como Ferramenta para a Justiça Hídrica e a Adaptação Climática trouxe o debate de ideias sobre a governança da água em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU - Organização das Nações Unidas.
“Minha participação introduziu uma nova abordagem que vai além das visões convencionais, propondo uma imersão nas realidades locais por meio de um modelo de governança co-produzida”, declarou Júlia Borges. “Aprendemos muito como Rede, sendo um exemplo inspirador de colaboração para soluções sustentáveis”.
A Conferência foi um sucesso teve mais de 28.000 participantes presenciais e 300.000 virtuais, consolidando-se como espaço vibrante de troca de conhecimento
“Foi uma honra compartilhar nossa pesquisa na CLACSO. Articulando conceitos como a cultura da água, buscamos caminhos para uma sustentabilidade que respeite e valorize as interações entre natureza e sociedade, promovendo a justiça socioambiental e hídrica”, Júlia Borges, coordenadora executiva da Rede Marangatu
Encontros para ampliar parcerias da Cooperação Internacional
A missão internacional na Breda University of Applied Sciences (BUas), nos Países Baixos, teve como objetivo central o fortalecimento da cooperação científica com a Academy for Tourism, Leisure and Technology, no marco do Plano de Trabalho 2025–2029. A programação incluiu reuniões institucionais, oficinas temáticas, visitas técnicas e a participação no European Sustainable Tourism Mobility Forum 2025, com debates sobre turismo regenerativo, mobilidade responsável e justiça ambiental. Foram discutidas metodologias de coprodução do conhecimento, uso de tecnologias digitais como gêmeos digitais (Digital Twins) para gestão marinha e territorial, inteligência artificial aplicada à leitura de territórios, desenvolvimento de games educativos inspirados nos Jogos da Bocaina e articulações com programas formativos da BUas nas áreas de turismo, lazer e tecnologias aplicadas. Entre os encaminhamentos, destacam-se a formulação de propostas para chamadas internacionais, a criação de um grupo de trabalho sobre gêmeos digitais participativos e a preparação para o II Encontro Internacional de Territórios e Saberes.
As equipes do OTSS compartilharam a experiência territorializada de pesquisa-ação junto às comunidades tradicionais do Sudeste brasileiro, destacando seu modo próprio de governança, a produção de dados soberanos e estratégias voltadas ao Bem Viver. A Rede Marangatu, articulada a partir desse acúmulo, foi apresentada como uma plataforma internacional de governança territorial, com atuação estratégica na justiça socioambiental, na gestão costeiro-marinha e na promoção de inovações comunitárias
“Dialogamos a respeito da valorização da sociobiodiversidade, da justiça socioambiental, da governança territorial, da ciência cidadã e da governança de dados aplicada a territórios tradicionais”, Juliana Carvalho, assessora de cooperação internacional do OTSS.
As instituições pactuaram, ao final dos encontros, planos de trabalho que incluem mobilidade acadêmica, desenvolvimento de pesquisas conjuntas e ações de extensão voltadas à valorização dos territórios. Entre os compromissos assumidos, destacam-se a consolidação da Rede Marangatu como plataforma internacional de governança participativa, a preparação do II Encontro Internacional de Territórios e Saberes (2026), o intercâmbio sobre tecnologias sociais e gêmeos digitais participativos para gestão territorial, além da criação de um Grupo de Trabalho na CLACSO e o aprofundamento das agendas Sul–Sul e de inovação em tecnologias sociais e digitais.
***
Reportagem: Débora Nobre Monteiro





































Comentários