Comunidade registrou 11 mortes e 87 pessoas desalojadas de suas casas após fortes chuvas ocorridas em Angra dos Reis (RJ) em 2022. Plano conta com a participação da Fiocruz e do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) por meio do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes-Fiocruz) e o Programa de Pesquisa Translacional em Promoção da Saúde (Fio-PromoS).
Após a tragédia de abril de 2022, associada aos deslizamentos de terra que atingiram o bairro da Monsuaba, em Angra dos Reis (RJ), comunitários e especialistas em gestão de riscos de desastres deram início aos diálogos para a construção de um plano comunitário de enfrentamento de desastres com o objetivo de melhor preparar a comunidade em como proceder no caso da iminência ou ocorrência de um desastre, a exemplo das fortes chuvas ocorridas no município fluminense em abril de 2022.
À época, o bairro de Monsuaba registrou 655 milímetros de chuva em 48 horas, um recorde histórico que levou também a diversas ocorrências de alagamentos, obstruções de vias e rodovias vicinais, desmoronamento de casas e devastação de roçados, meio de subsistência de diversas famílias. Ao todo, foram 11 mortes e 87 pessoas desalojadas de suas casas.
“Ao considerarmos os desastres como um dos resultados da interação homem meio ambiente, na qual a saúde e a segurança das pessoas são abaladas e fauna e flora também ficam desestabilizados, faz-se necessário a construção de respostas que considerem esta interconexão e os desafios e soluções de forma integrada, com modelos de gestão de riscos que equacionem ameaça, exposição e vulnerabilidade, ampliando a capacidade de respostas socioambientais”, explica o coordenador de Governança e Gestão do OTSS, Leonardo Freitas.
A comunidade da Monsuaba, que conta com cerca de 10 mil moradores, teve sua primeira reunião de articulação do projeto no dia 05 de julho deste ano, realizada na Escola Municipal Benedito. A perspectiva, agora, é realizar encontros mensais até dezembro, quando pretende-se apresentar uma primeira versão do Plano comunitário, que também objetiva apoiar a atuação dos órgãos públicos envolvidos na resposta a desastres, indicando procedimentos e apresentando informações que podem auxiliar na atuação desses órgãos. A próxima reunião na comunidade está programada para o dia 08/08/23 às 18h, a ser realizada em uma das escolas do bairro.
“Agradecemos a todos que têm apoiado a desenvolver esse projeto tão importante para a nossa comunidade. Todos precisam saber da importância desse projeto e eu fico muito feliz com essa primeira reunião. Tenho certeza de que a participação vai aumentar ainda mais, vai ter dias que vai ter caminhada e que vamos aos locais que são áreas de risco, tudo isso será muito importante para nós”, destaca Joel Vitorino, presidente da Associação de Moradores do Bairro Monsuaba.
Registro da primeira reunião realizada com a comunidade em 5 de julho.
A primeira aproximação das instituições executoras do plano junto à comunidade ocorreu por meio da Oficina de Trabalho de Gestão de Riscos realizada por Fiocruz, FCT, OTSS, UFF e Unesp no contexto da Caravana do Bem Viver, que ocorreu em Angra dos Reis em junho de 2022. À época, Sérgio William, o “Tico”, liderança comunitária que perdeu sua esposa, um filho, enteado e sogros, já chamava atenção para a importância da participação da comunidade nos desdobramentos da tragédia. “Esse tipo de estudo e trabalho precisa ser feito para que outras pessoas não sofram o que eu sofri. É necessário encaminhar isso para as autoridades e cobrar medidas efetivas”, destacou.
Ecoando os protestos, o plano agora em construção, incide fortemente também sobre a questão do direito à moradia, que até hoje aflige os moradores. “A comunidade se organiza em torno de uma associação que existe há quase 40 anos, e que, desde sua fundação, já luta pelo direito à moradia. Com o desastre, esse direito é novamente violado porque muitas famílias precisaram sair de suas casas sem, até hoje, ter uma resposta devida do poder público”, destaca Elisa Garcia, pesquisadora do OTSS que atua diretamente no projeto.
“A Monsuaba sempre foi muito esquecida e abandonada, ainda mais depois de acontecer esse desastre. E ter comunitários trabalhando aqui, junto com o povo, é muito importante para eles se sentirem acolhidos, e, ainda mais que isso, para que não se sintam esquecidos”, completa Natália Coutinho de Lima, comunitária da Monsuaba que atua como mobilizadora do projeto.
Contato
Moradoras e moradores da Monsuaba interessados em participar da construção do plano podem entrar em contato com a mobilizadora pelo telefone (24) 999066292 e solicitar o ingresso no grupo de whatsapp do projeto. “A participação de todos é muito, muito importante”, convida a mobilizadora Natália.
Visualização gráfica dos principais pontos tratados na reunião preparatória da equipe do OTSS: estudo de 2011 já apontava para os riscos.
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